Essa é a questão uma vez que você descobre o que é o tdah. De um modo simplista eu vejo dois caminhos, enxergar como uma doença e renegar todo e qualquer resquício do transtorno, seja através de remédio, terapia, na raça ou todas as anteriores. É uma maneira de ver as coisas e dependendo do grau de sofrimento que essa doença trouxe na sua vida acho decente buscar um pouco de paz. Acredito que é a maneira mais segura de lidar com o transtorno.

O outro caminho é não aceitar que tdah é uma doença, ou pelo menos não uma doença que te desabilite por completo e que sim tdah tem características muito positivas, como por exemplo a empatia, costumo brincar que em breve a empatia vai ser o novo ouro, dada a tamanha ausência dessa característica em pessoas que não tem o transtorno. Eu acho que esse caminho é mais difícil, te leva a estrada do autoconhecimento e essa não é uma estrada tranquila de se pegar, fatalmente você vai cometer alguns erros, ter que fazer escolhas e nossa cultura não nos ensina como a lidar com riscos, somos ensinado a primeiro pensar em não perder, depois no resto.

Para mim os dois caminhos são válidos, embora tenha ficado clara minha preferência. O principal é fazer uma escolha, vejo muitas pessoas tentando seguir os dois caminhos, elas acreditam que tem uma doença, acreditam que são debilitadas, mas ao mesmo tempo não querem se tratar, não fazem nada pra sair daquela situação. Por isso, mesmo não preferindo a rota mais segura, admiro quem rompe com o estilo de vida característico nosso e abraça o mundão do jeito que ele é.

Eu não acredito que tenho uma doença, com certeza tenho alguns problemas, mas eu lido com eles e tento tirar vantagem das minhas qualidades o máximo possível. Não vou mentir, esse caminho me tira completamente a chance da normalidade, mas e dai? Desde criança eu sempre soube que não teria uma vida normal, eu nunca quis aquela vida padrão, american way of life, classe média, dois filhos e comer macarrão na casa da sogra domingo. Eu até tenho um relacionamento e sou bem feliz com ele, mas parte dessa minha felicidade vem do fato de eu ser aceito como eu sou, com todas as minhas dificuldades.

Deixei por um tempo o mundo jogar na minha cara que eu não servia pra nada, mas não mais. Ok eu tenho problemas, mas quem não tem? Eu lembro da minha infância onde minha família era sempre a errada e todo mundo era o fodão, hoje depois de adulto ainda tentam fazer isso, alguns parentes tentam esconder a sua mediocridade apontando o dedo pros meus defeitos e o que me parece é que isso acontece na vida em geral, em maior ou menor grau e nós em minoria compramos essa ideia de que somos derrotados, vagabundos, preguiçosos e todos os adjetivos que nos dão. Não me entendam mal, podemos ser algumas dessas coisas, eu sou EXTREMAMENTE preguiçoso, procrastinador e desorganizado, mas eu não sou só isso. Sou EXTREMAMENTE criativo, tenho um bom senso muito acima da média, tenho uma empatia gigantesca e várias outras qualidades que ultrapassam muito as das pessoas comuns.

Por isso não quero tomar o caminho de negar quem eu sou, se por um lado eu sou preguiçoso, por outro sou muito bom pra resolver problemas, se não penso pra falar, minha empatia me faz ser um ótimo ouvinte, é tudo parte do pacote. Não é uma escolha fácil, lidar com seus defeitos o tempo todo tentando melhorar é bem difícil, mas acredito que o resultado final me fará ser uma pessoa melhor, muito mais realizada, porque afinal de contas, não quero comer macarrão de domingo na sogra como o ponto alto da minha semana.